Thursday 24 March 2011

Vamos lá ver se (nos) entendemos...

O debate presidencial continua a desiludir bastante. Três breves notas sobre assuntos que têm surgido constantemente nos debates de forma que me parece profundamente equívoca.

1 – Os fundos. Porque será que ninguém diz o óbvio. Que é uma péssima ideia qualquer candidato aparecer com um fundo. Não é que um fundo de investimento em jogadores seja necessariamente uma má ideia para o Sporting. O que é seguramente mau é um candidato negociar qualquer fundo de investimento quando ainda não é presidente do Sporting. É óbvio que as condições obtidas serão piores: porque diminui o número de potenciais interessados em negociar e investir num tal fundo (negociar com um candidato ou com o Sporting é diferente...) e porque um candidato tem menos poder negocial do que um presidente do Sporting. Um candidato pode e deve formular como acha que deve ser constituído e operar um fundo a criar pelo Sporting mas vincular-se a um fundo com determinados investidores antes das eleições parece-me simplesmente absurdo.

2 – Treinadores. O manifesto diz tudo o que penso a este respeito a que acresce que o que disse antes para o fundo se aplica também aqui. Um candidato tem menos escolha que um presidente (muitos treinadores nem sequer aceitam envolver-se neste “circo”). Até é bem possível que um candidato a presidente preferisse o treinador já apresentado por outro mas como também tem de apresentar um... (imaginem que o preferido do BC e GL era o Rijkard mas que como tinham de apresentar alguém durante a campanha escolhiam nomes diferentes em vez de esperar pelas eleições para negociar quem realmente preferiam?...). O importante era apresentar um mecanimos de escolha credível e diferente que identificasse um perfil e um processo de seleção inovador e que garantisse o máximo de qualidade e proximidade a esse perfil (vejam o que propomos no manifesto).

3 – Remuneração. Continua a bater-se na tecla que um Presidente do Sporting não pode ser remunerado. Isto deixa-nos duas opções: apenas se podem candidatar os que já são milionários ou reformados ou aqueles que têm profissões compatíveis com uma acumulação (normalmente empresários). Isto é uma fonte enorme de potenciais conflitos de interesse. Eu prefiro um presidente remunerado e com regras muito claras que proíbam determinados conflitos de interesse.

Que frustração estes debates....

Tuesday 8 March 2011

Manifesto Por Um Debate Diferente Sobre o Futuro do Sporting

Recuperar a Identidade Perdida

O debate sobre o futuro do Sporting tem sido conduzido, a nosso ver, de forma deslocada e inconsistente. Não tem havido sequer um verdadeiro debate. Não pretendemos ouvir nomes de treinadores ou jogadores. Não queremos promessas de dinheiro. Tememos populistas. e suspeitamos dos que apresentam a sua proximidade ao poder ou dinheiro como uma vantagem para o Sporting. Temos apenas a convicção de que é preciso discutir o Sporting de forma diferente.
Neste momento, a prioridade do Sporting é, acima de qualquer outra, recuperar a sua identidade. Tivemos um longo período da nossa história em que perdemos muito sem perder o entusiasmo. Hoje, ao fracasso soma-se a perda de entusiasmo. A razão é simples: deixámos de nos identificar com a equipa.
Fala-se, por vezes, da identidade do Sporting mas não se discute em que consiste e como a recuperar. Pelo contrário, o que temos ouvido até agora acentua a esquizofrenia que tem dominado a sua gestão nos últimos anos: um discurso puramente racional sobre a gestão do clube e uma prática passional e errática na gestão do futebol. Disseram-nos que tínhamos de separar o negócio que sustenta o futebol da emoção do futebol. Só que o negócio do futebol é a emoção. Um clube não tem consumidores mas sim adeptos. Não vende produtos ou serviços em si mesmos mas a identidade que lhes está associada. O clube não soube gerir o futebol como negócio de emoções. A aceitação de uma certa modéstia desportiva em nome da suposta boa gestão financeira foi o grande mote do Sporting nos últimos anos. O resultado tem sido uma efectiva modéstia desportiva e uma duvidosa gestão financeira.
É a esta luz que devemos configurar a identidade do clube para além do futebol. Não sabemos se se ponderou a extensão das consequências de acabar com algumas modalidades amadoras a título competitivo. Parece-nos que o prejuízo que davam era largamente compensado pela identificação dos adeptos ao clube em toda a sua dimensão e diversidade, (sobretudo) quando o futebol não ia bem. Indiretamente, elas sustentavam também o futebol.
Hoje, A gestão da identidade não pode ser separada da gestão desportiva (sobretudo no futebol) e esta é indissociável da gestão financeira do clube. É com o entusiasmo que as suas equipas geram e as mais-valias decorrentes da cedência dos seus jogadores que se sustenta economicamente um clube.
Devemos olhar para os modelos de sucesso e saber adaptá-los à nossa identidade. O Sporting fez uma opção estratégica pela formação e essa aposta parece constituir uma parte da identidade no clube. Mas cremos que o seu sucesso se deve mais à comunhão do seu valor entre sportinguistas do que à consistência da sua aplicação (com erros de todos conhecidos) ou ao facto de se terem produzido alguns jogadores extraordinários. A identidade do clube passa para os seus formandos, com todos os defeitos e virtudes. Precisamente a mesma identidade que é capaz de produzir o extraordinário é aquela que é capaz de subaproveitar o seu potencial. Só temos de aproveitar todo o potencial da nossa identidade, extrair o máximo da sua cultura de mérito e e da sua capacidade de fazer melhor que ninguém.
Por exemplo, a aposta num modelo assente na formação exige cinco coisas: primeiro, a quase totalidade das posições de tipo B (os não fora de série) devem ser preenchidas por jogadores da formação; segundo, tem de existir um modelo de jogo transversal cuja cultura tática esses jogadores saibam de memória; terceiro, a distribuição da massa salarial deve recompensar os jogadores da formação e não usá-los para financiar outros jogadores de categoria mais baixa; quarto, deve existir um plano de carreira dos jogadores da formação onde seja claro, desde cedo, o que lhes será exigido e oferecido; quinto, as contratações externas devem ser reduzidas a jogadores que sejam claras mais valias (o mesmo investimento deve ser concentrado em menos mas melhores jogadores).
O segundo aspecto fundamental para recuperar a identificação dos sportinguistas com o clube passa por uma maior transparência na sua gestão. Queremos saber como se atingiu o défice atual e o que nos distingue dos nossos rivais. Foi o estádio o principal responsável pelo atual défice? Se sim, porque razão custou muito mais do que os outros? Queremos contas consolidadas e saber a extensão real da dívida do clube, a sua repartição entre diferentes credores e as taxas de juro que nos são cobradas. Dizem que os contratos com os bancos impõem certas condições ao Sporting quanto à gestão da sua equipa de futebol e os investimentos na mesma. Queremos conhecê-las também. Não há nenhuma razão para estas informações não serem do conhecimento dos sócios.
Do ponto de vista desportivo, necessitamos de preparar e avaliar seriamente as nossas escolhas desportivas. Que perfil de jogador tem oferecido mais rendimento? Há um verdadeiro modelo de jogo? A saga dos treinadores no último ano, culminada com a vinda de Paulo Sérgio em vez de André Villas Boas, é um bom exemplo do que acontece quando se tomam decisões desportivas sem essa reflexão prévia. Há duas explicações possíveis quanto ao que se passou. A primeira é que o Sporting queria Vilas Boas e Paulo Sérgio foi uma segunda escolha. A ser verdade, ela comprova que no Sporting se escolhe um treinador sem pensar no modelo de jogo: Villas-Boas e Paulo Sérgio não podiam ser alternativas um ao outro porque têm modelos de jogo claramente opostos. A segunda hipótese é que se preferiu Paulo Sérgio porque se pretendia implantar o seu modelo de jogo. Neste caso, é a própria opção por esse modelo que não se compreende por nos parecer contraditória com os jogadores que o Sporting tem, aquilo que faz na formação e a própria tradição do clube. Num clube que tanto tem reclamado a necessidade de uma gestão racional as opções desportivas parecem ser feitas muitas vezes sem critério. Para responder a isso, fazemos duas propostas originais. Primeiro, sendo verdade que o Sporting não parece ter dinheiro para contratar um grande treinador, temos seguramente o suficiente para pagar uma consultadoria sobre a nossa política desportiva a três treinadores de topo (nomes internacionais como Sachi ou Hiddink conjugados com alguma ex-glória do Sporting).: desde o modelo de jogo à qualidade do nosso scounting tudo deve ser avaliado. Este grupo de sábios (chamemos-lhe assim) deveria, igualmente, ajudar o clube a definir um perfil de treinador e a selecioná-lo. Segundo, que os treinadores passem a ser avaliados não apenas pelos resultados mas também pelo público que atraem ao estádio, de forma a premiar a qualidade do futebol mesmo quando a juventude da equipa não lhe permita sempre vencer títulos.
Por último, o clube tem não apenas de pensar a sua identidade mas impô-la. Primeiro, o clube tem de retomar a liderança do debate sobre o futebol em Portugal. Que modelo de organização para o nosso futebol? Que mudanças na arbitragem e, em particular, nos critérios de avaliação dos árbitros? O clube poderia sugerir, por exemplo, que a classificação anual dos árbitros assentasse mais na sua coerência de critérios do que em erros individuais. Isto exigiria uma comparação entre os critérios adotados pelos árbitros não só em diferentes lances mas também em diferentes jogos o que permitiria, igualmente, controlar os próprios avaliadores. Segundo, é necessário reconhecer que num contexto futebolístico crescentemente globalizado opeso relativo dos campeonatos nacionais é cada vez menor em termos desportivos e financeiros. As principais fontes de receitas estão associadas aos campeonatos mais mediáticos. O Sporting pode e deve assumir um papel de liderança dos clubes formadores nas discussões sobre o modelo competitivo do futebol a nível internacional. O clube tem, igualmente, uma mais valia enorme por ter sido o clube que formou jogadores como Ronaldo e Figo. Mesmo já não estando no clube, nada impede o Sporting de tirar partido (incluindo do ponto de vista de marketing) da sua relação anterior com esses jogadores. A internacionalização do clube tem de partir também da sua identidade.
Os sportinguistas precisam de se reencontrar com o Sporting e o Sporting precisa de reavivar a cultura que fez dele um clube com forte tradição identitária. Quantas vezes não ouvimos recentemente que as crises oferecem uma oportunidade. O Sporting é conhecido por falhar muitas oportunidades... Esperemos que as próximas eleições não sejam apenas mais uma bola na trave. Comecemos por maximizar o número de oportunidades melhorando a qualidade do debate.

António Fidalgo

João Barata

Luciano Amaral

Luis Sousa

Miguel Poiares Maduro

Pedro Fajardo

Pedro Lomba

Pedro Sousa
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